
Entre cenouras e sorrisos
Mateo não queria saber das cenouras, até que a avó lhe mostrou como nascem na terra. Entre risos e sabores, aprendeu a vê-las de outra maneira.
O Mateo tinha três anos e uma coisa muito clara: não gostava de cenouras.
— São laranjas, fazem um barulho estranho ao trincar e não sabem a nada — dizia sempre que apareciam no seu prato, com a testa franzida e a boca fechada como uma porta.
Um dia, a avó levou-o até à horta no fundo do jardim. Ali, as cenouras não estavam cortadas nem cozidas. Saíam da terra como tesouros escondidos: umas compridas, outras curtas, algumas tortas e outras com bigodes de terra.
— As cenouras não nascem no frigorífico, Mateo —disse-lhe a avó. — Nascem aqui, à espera de que alguém as descubra.
O Mateo puxou por uma folha verde e tirou uma cenoura gordinha e brilhante. Tinha uma forma tão estranha que parecia um sorriso torto.
— Tu também tens nome? — sussurrou, como se a cenoura pudesse responder.
Nessa tarde, cozinharam juntos. Lavaram as cenouras, cortaram-nas em rodelas finas e levaram-nas ao forno com um fio de azeite e um pouco de alecrim. O cheiro espalhou-se por toda a cozinha.
O Mateo provou uma. Mastigou. Pensou.
— São doces… e estalam como folhas secas.
E, sem dar por isso, sorriu.
Desde então, o Mateo não se tornou amigo de todos os legumes. Mas aprendeu algo importante: às vezes, para gostarmos de uma coisa, só precisamos de a ver de outra maneira.